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Faço parte da classe de escritores que seguem o fluxo da inspiração, sem roteiros, sem antecipar ideias.
Meu processo é simples: tenho uma ideia qualquer — cenouras revoltadas —, imagino a extensão e/ou pretensão de história — será um conto, talvez um fábula… Gostei da ideia de uma fábula, uma fábula de terror sádico… Espera… Meu narrador será uma cenoura mutante!!!
Após escolher o narrador, tentarei ao máximo respeitá-lo.
Uma fábula de terror sádico narrado por uma cenoura mutante terá certamente muitas estripações de coelhinhos, e é isso. Respeito o leitor, respeito minha arte, respeito meu estilo de construir histórias, minhas manias; todavia, respeitarei antes e em maior intensidade o meu narrador. Depois coloco um aviso na introdução do livro ou sinopse: Se você não quiser ler a respeito de estripações de coelhinhos, deixe este livro de lado.
Então um editor me diz: Flavio, que horror! Tadinho dos 37 coelhinhos assassinados na fábula. Ninguém vai gostar disso. Por que você não usa mais metáforas ou mata a cenoura mutante no final? R.: Um leitor ao menos gostará, e fui fiel ao meu narrador.
Finalizando, o conteúdo de uma história deve respeitar o narrador e a época em que se deram os acontecimentos.