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(a) Use e abuse da irregularidade e elimine os cercados
Outro dia revi a entrevista do escritor americano Jonathan Franzen, na qual ele diz detestar os livros escritos com organização prévia. Como assim? Ele diz não gostar de escrever um livro tendo antes se organizado, criado um roteiro, uma cronologia ou mesmo pensando em toda a história, e também não gosta de ler livros assim. Alguns discordarão, mas concordo em gênero, número e grau.
Não devemos escrever livros com cercadinhos.
Nós, na minha opinião pessoal e compartilhada por Franzen, podemos deixar fluir o livro naturalmente, sem antes estabelecer resumos, cronologias, marcas ou sinopses, isso são cercas que amarram a criatividade. O livro, concordo novamente, deve acompanhar a evolução ou regressão psicológica do escritor, seguir as mudanças de humor e refletir o momento. Se o escritor se apaixonar por um personagem, melhor tê-lo livre, sem amarras e ideias preconcebidas. Deixe livre a história, não faça resumos antes de iniciar um livro.
(b) Use todos os recursos da língua portuguesa, especialmente os tempos verbais
Um livro escrito apenas com um tempo verbal é cansativo. Os recursos da língua portuguesa estão postos à mesa para serem usados, o objetivo: tornar o texto mais interessante. É fundamental compreender os tempos verbais e usá-los. O livro A Menina que Roubava Livros começa narrado no presente, com a narradora se apresentando, por exemplo. Como disse Renato Russo: O imperfeito não participa do passado. O pretérito imperfeito é exageradamente utilizado. Esse tempo verbal é muito útil, mas coloca a ação no passado, e ações do passado passaram. Um escritor tem que se capaz de imaginar uma história acontecendo. Olhe pela janela e escreva o que estiver vendo.
Olho pela janela, uma mulher atravessa a rua carregando o filho no colo, um ônibus vem, freia bruscamente e assusta a mulher. Isso me lembra de quando eu quase fui atropelado. Eu vivia andando de cabeça baixa, culpa da minha timidez, e certo dia não reparei em outro ônibus. Fui salvo por um grito.
Acima um exemplo, o ato acontecendo, no presente, a lembrança no pretérito imperfeito, e ainda utilizei outros tempos para a mesma ação. Eu sou um apaixonado pelo indicativo, pela narrativa que me transporta para o agora, e instigo todos a tentarem. Era uma vez é um dos piores começos já imaginados para uma narrativa.
(c) Use o cômico entre o trágico e dramático
Em muitas histórias o cômico pode ser usado para aliviar a tragédia e o drama. É fundamental, no meu entender, manter a ironia sempre perto das palavras, como fazem os grandes mestres, o lado cômico deve aparecer aqui ou ali, sem exagero. Existem vários modos de usar a comédia, um deles é inserindo um personagem engraçado, divertido. Outro modo bastante eficaz é construir frases divertidas, jogar com as palavras. Eu coloquei uma frase no AEcM12 que achei divertida por causa desses vocábulos: emanações que emanam sons. Esse tipo de brincadeira com o leitor é importante. Nós, escritores, temos o direito de quebrar o ritmo do leitor, fazê-lo pensar, respirar, mergulhar, e o lado cômico está entre os melhores modos de remover o ritmo da leitura. Um drama pesado precisa desses toques cômicos. Use e abuse deles. Se estiver escrevendo uma comédia romântica, o inverso vale, coloque algo tragicômico, algum drama, aliás, em comédias o texto no presente, voltei acima, é ainda mais interessante, porque o mais importante é o timing.
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